
Sentei no bar atordoado, porque tinha perdido alguns de meus melhores amigos e uma namorada que não amava num acidente aéreo. Minha cabeça estava enfaixada, mas eu podia beber. Precisava de um pouco de música, por isso olhei para os caras que se preparavam no palco improvisado à minha frente. E eles começaram.Em poucos segundos esqueci completamente a dor e sacolejei loucamente no meio do salão. Era um surto, e a banda, The Bad Folks.Sabia muito pouca coisa sobre os sujeitos. Cassiano, que cantava e tocava sua guitarra, fora capitão do grupo curitibano Magog nos anos 90; Caio no violão e nas vozes eu já vira no Frutos Madurinhos do Amor; Guto no baixo fora um Woyzeck há tempos; André se parecia muito com uma figura que estraçalhava sua guitarra na década passada no UV Ray; e Branco, ah, esse sim eu conhecia bem, porque o Branco tocava bateria no Svetlana, e também no Excelsior, além de ser geólogo. Um cientista, como eu.Era como se uma banda de mariachis mexicanos tocasse música irlandesa depois de um breve estágio no deserto com o Captain Beefheart. Mas era também como se Leadbelly fosse o terceiro elemento do White Stripes. E eles cantavam e cantavam essas canções que haviam composto com tanto gosto que dava vontade de agarrar a garçonete. Contudo, como um catarinense, fiquei um pouco incomodado com aquele jeito curitibano obtuso de conduzir a coisa. Isso porque tentei invadir o palco e os caras me ameaçaram com suas guitarras, ou foi apenas impressão minha. Curitibanos são assim: tu nunca sabes qualé a deles.Mas o som dos Bad Folks, esse você sabia muito bem o que era. As verdadeiras Bestas dos Pinheirais se expõem completamente através de sua arte. Que bonito isso. E dava para perceber nitidamente que aquele som tinha sua própria cara. Uma canção era completamente diferente da outra, mas todas tinham a mesma marca registrada. Chamá-los de banda de Folk Rock ( ou Freak Punk Folk Rock, nas palavras de Dora Bakunin) é reduzi-los à meia esquerda de um caipira pesadamente vestido para o frio. Debaixo do chapéu pode estar escondida até mesmo uma pitada de atitude samba, afinal de contas, tirando Cassiano e Branco, todos ali são também o Gente Boa da Melhor Qualidade, que por onde passa carameliza calcinhas com sambas antigos genuinamente punks. Naquele primeiro show fiquei contagiado pela vivacidade sacana dos Folks, que sempre parecem estar se divertindo à beça. E mesmo depois dos muitos concertos que assisti, já sem as faixas na cabeça e totalmente recuperado dos traumas do acidente, eles ainda não me deixaram subir no palco. A marca registrada desse som? É melhor eu não perder muito tempo tentando te explicar. Ouça os MP3 e saque isso por si mesmo.
Integrantes
Guto Gevaerd - Baixo
Caio Marques - Violão
Cassiano Fagundes - Guitarra
André Scheinkmann - Guitarra
J.C. Branco - Bateria
Caio e Cassiano - Voz
Links
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=553
http://www.myspace.com/badfolks
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